quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Hoje fiquei até mais tarde na cama. Depois de ter sido abanada, depois de ter levado umas boas palmadas decidi dar ouvidos à minha maezinha e levantei-me.
Poucos minutos depois o telefone toca.
Sou eu quem atende.
Do outro lado uma voz conhecida. Alguém com quem já há muito nao falava. A voz de alguém que só falou porque a outra pessoa, cuja voz me é tao conhecida, nao conseguíria dizer o que tinha que ser dito.
Com uma voz bem calma, bastante pausada, tentava arranjar forças para dizer as palavras cruciais. Quando ouvi aquela voz ao telefone já sabia o que ía ser dito. Mesmo antes de ouvir os meus olhos encheram-se de água. Fiz um esforço para que do outro lado nao fosse percebido, para nao provocar a mesma reacção. Foi entao que o inevitável foi dito. Já tinha partido...

Todos os dias em que me descreviam a situação em que estava, era-me dificil imaginar o que me era descrito. Já poucas imagens dele tinha guardadas na minha memória. Já nao conseguia mesmo ter uma imagem definida do seu rosto. Lembrava apenas de alguns momentos.

Há anos atrás quando decidiram ir para os Estados Unidos decidiu que voltaria à sua terra apenas quando fosse para voltar de vez. Disseram que seriam apenas 10 anos. Passados esses anos aguardávamos aqui o seu regresso. Mas esse regresso teimou em tardar...
Entretanto foi "apanhado" pela doença...Lutou durante bastante tempo...até que hoje já nao teve mais força...

Eramos familiares, familiares nao muito próximos, mas davámo-nos bem, era tratado por "Ti Gomes"...
Não me vou esquecer que foi ele que me ensinou a tirar os pinhoes das pinhas e a parti-los. Nao me vou esquecer da dor de barriga com que fiquei depois de ele me ter posto a comer pao com manteiga e tuli-creme e café com leite...Da imagem daquele senhor que de vez em quando se sentava ali nos bancos, que tanto brincava com a sua netinha, comigo e até mesmo com a minha irma...

Merecia ter sofrido menos no final da sua vida

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